Outubro 15, 2023
Um ano depois, decidi finalmente revisitar esta autora e continuar a saga que se centra na cidade costeira de Fjällbacka.
Esta pausa não teve nada a ver com o meu interesse na série, mas antes com a infeliz coincidência de ter tentado começar a ler este livro (que se centra num artefacto nazi) logo depois de ter acabado de ler O Rouxinol, de Kristin Hannah (a história de duas irmãs durante a Segunda Guerra Mundial). Não resultou, claramente.
Mas depois de uma longa pausa aqui estamos, a retomar a leitura de um dos maiores nomes mundiais de thriller e proclamada rainha do Noir, a autora que tem sido equipara à Agatha Christie da Suécia. E uma das autoras preferidas da minha mãe, a pessoa que me recomendou esta coleção.
Com esta leitura estou agora a cerca de metade da série (este é o quinto de onze livros). A escrita de Camilla Läckberg continua a convencer-me, principalmente pela envolvência que esta cria ao traduzir de forma muito vivida a existência numa pequena povoação extremamente fria e exposta ao mar que se transforma no verão no resort sazonal dos suecos.
Consegue também manter um equilíbrio muito interessante entre a investigação policial do crime e a vida pessoal das personagens. Se em cada livro acompanhamos um crime (desde as condições que levam ao ato até à sua resolução), continuamos a ter também mais desenvolvimentos nas vidas e desafios pessoais não só do investigador principal (Patrick) como da sua mulher (Erika, que foi a personagem central no primeiro livro mas tem desde então dividido protagonismo com Patrick) e toda a sua família e amigos. Ao tocar em temas bem reais com bastante tacto, a autora consegue tornar todas estas personagens bem mais reais.
No entanto, não posso escrever sobre esta coleção sem referir algo que me enerva particularmente. Em todos os livros há uma fixação desmesurada no peso das pessoas. Erika tem frequentemente pensamentos sobre como se sente "gorda" ou mostra-se frustrada sobre Patrik perde peso mais rapidamente ou não leva as dietas a sério. O chefe de Patrik destaca que uma das caraterísticas que mais gosta no seu novo interesse amoroso é ela não parecer importar-se com ter uns quilinhos a mais na barriga. E estas referências repetem-se em relação a todas as personagens, numa obsessão dada à magreza que não existe com qualquer outra caraterística física ou psicológica.
Marcante também é a estrutura seguida. Os livros são sempre contados a dois tempos: a ação presente e os flashbacks ligados aos crimes que abrem todos os capítulos. De todos os que li, este é de longe o livro em que esta estrutura foi mais interessante e melhor conseguido.
A ação tinha até sido lançada no fechar do livro anterior, quando Erika (uma das personagens principais) encontra uma medalha nazi nos pertences da mãe, com quem mantém uma relação difícil mesmo depois da morte. As analepses dão-nos assim contexto para conhecer a mãe e toda a sua história até esta se tornar na pessoa fria e distante que Erika refere desde o primeiro livro.
A autora volta a usar esta mesma fórmula para lançar já o próximo livro (A Sereia) que tenho toda a intenção de ler muito em breve. Isto apesar da autora ter sido recentemente implicada num escândalo, em que está acusada de recorrer a um ghost writers em alguns dos seus livros mais recentes doutra série.